A Secretaria de Agricultura Familiar (SAF), em parceria com Associação de Meliponicultores do Piauí (AME-PI) realiza nesta sexta-feira (14), o 1º Fórum de Meliponicultura do estado. O objetivo da ação é discutir a necessidade de criar um marco regulamentário para a atividade no Piauí. A meliponicultura, diferente da apicultura, trabalha com abelhas nativas sem ferrão, importantes na preservação da biodiversidade piauiense, por serem mais seletivas quanto às plantas a serem polinizadas.
De acordo com a Secretária da Agricultura Familiar do Piauí, Rejane Tavares, o fórum é importante por incentivar uma maior união de produtores da região, com a produção de um mel diferenciado por ser mais fino e por possuir maior valor financeiro, nutricional e medicinal.
“Sabemos que quem participa do seminário e que trabalha com a meliponicultura tem um carinho com o tipo de atividade desenvolvida, e por isso precisam de apoio do estado. Estamos aqui para construir esse apoio, fomentado pela SAF, mas todo o processo de normatização e regulamentação vai ser construído junto com pessoas que já trabalham com a atividade”, afirmou.
No fórum é possível ver relatos de experiência de outros estados que já possuem a atividade regulamentada, como na Bahia, além de poder ver algumas espécies de abelhas sem ferrão nativas do Piauí, disseminar conhecimento em torno da atividade e reconhecer as condições do estado em trabalhar com a produção.
O presidente da AME-PI, Raimundo Amorim, afirma que, para a meliponicultura, será de suma importância por trabalhar não só com o incentivo a produção regional, valorização do bioma, como também na existência das abelhas, base da existência de diversas plantas e da existência humana.
“Na lei, a gente trabalha tanto na área de preservação, nos cuidados necessários para que as nossas abelhas não entrem em extinção, porque toda a vida do planeta depende da polinização das plantas, base da vida, então elas são fundamentais, além de contribuírem na geração de renda com mais produtores da agricultura familiar, então com o apoio da SAF, parceira forte na área, com certeza traremos resultados positivos”, disse.
O evento visa elaborar um projeto de legislação que regulamente a meliponicultura no Piauí. A proposta deverá ser encaminhada à Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi) pelo deputado estadual Francisco Limma.
Para o professor aposentado do Instituto Federal da Bahia (IFBA), Rogério Alves, com o marco, o Piauí poderá ser o 15º estado a regulamentar a atividade, inicialmente trabalhada pelos produtores da Bahia, em 2002, e sancionada apenas em 2018, e destaca que, para o estado piauiense, poderá ser feito algumas melhorias.
“Na Bahia, temos pessoas que vivem do turismo de educadores ambientais que trabalham com abelhas sem ferrão, e antes o que eram 80 produtores da apicultura, agora são 30 mil, e esse número se estende a meliponicultura. E uma das nossas oportunidades com as discussões em torno do tema aqui no estado é promover conhecimento para a população, porque muitos não querem se regularizar temendo que o ‘estado tome as suas coisas’, o que não é real, na verdade todo o licenciamento é grátis, o que é importante para famílias de baixa renda, porque a realidade é que existem famílias que já trabalham com a atividade e que podem ser beneficiadas através do trabalhado regularizado, e também para os profissionais liberais que queiram investir na área”, destacou.
Registros do século XIX mostra diversidade de abelhas sem ferrão no Piauí
Segundo o professor de filosofia do Instituto Federal do Piauí, Halan Silva, que participa do Fórum e é autor do livro “Memória acerca das abelhas da província do Piauí no Império do Brasil”, a meliponicultura é uma atividade secular, realizada por povos tradicionais e que perduram até os dias atuais. A obra é baseada em documentos cópias do piauiense Leonardo Castello Branco, que circulavam no português arcaico desde 1842.
“Em termos de registro de abelhas nativas do Piauí esse é o documento mais antigo que se tem. Eu fiz atualização da língua e a organização da publicação tendo em vista o crescimento da meliponicultura em todo o país. Na obra é tratado sobre a questão ambiental, o que na época não se falava, como ecologia e preservação, além de destacar o seu início como um hábito adquirido pelos indígenas através dos colonizadores portugueses. Além disso, era uma dificuldade de ser estudado nos cursos de meliponicultura porque não havia na língua atual, então fizemos também com o intuito de facilitar o estudo e difundir conhecimento”, concluiu.
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